A Inflação dos Alimentos e os Interesses do Agronegócio: Uma Crítica às Políticas Neoliberais na Pandemia.
A alta dos preços dos alimentos e o aumento da inflação no Brasil não são fenômenos naturais ou acidentais, mas resultado de escolhas políticas e econômicas que priorizaram o lucro de poucos em detrimento da segurança alimentar da maioria. Como bem destacou José Graziano da Silva, ex-diretor geral da FAO, o valor que pagamos pelos alimentos hoje é definido por mecanismos de especulação financeira, que apostam em cenários futuros de oferta e demanda, distorcendo seu preço real e afetando diretamente o acesso da população a comida básica.
A Especulação Financeira e a Commoditização dos Alimentos.
O mercado de commodities agrícolas opera como um cassino global, onde grandes investidores apostam no preço futuro de produtos como soja, milho e trigo, sem qualquer preocupação com seu destino real: a mesa das pessoas. Essa lógica financeirizada faz com que os alimentos deixem de ser tratados como um direito básico e se tornem meros ativos de negociação, sujeitos a volatilidade e crises artificiais. Enquanto isso, o Brasil, um dos maiores produtores mundiais de alimentos, vê sua população enfrentar fome e inflação recorde.
Na Pandemia a Priorização foi o Agronegócio Exportador.
Durante a Pandemia da Covid-19, o governo manteve e até ampliou as exportações de commodities agrícolas, garantindo lucros exorbitantes para grandes produtores e traders internacionais. Enquanto países como a China e a Índia adotaram medidas para proteger seu mercado interno, o Brasil seguiu vendendo sua produção a preços elevados no exterior, deixando o mercado doméstico desabastecido. O resultado foi a disparada no preço de itens básicos como arroz, feijão e óleo, aprofundando a insegurança alimentar em um momento de desemprego e redução de renda.
Juros Altos, Desvalorização do Real e o Custo para o Povo.
A política econômica adotada no período aprofundou o problema: os juros elevados beneficiaram bancos e investidores financeiros, enquanto a desvalorização do real tornou as importações mais caras e aumentou a rentabilidade das exportações do agronegócio. Quem pagou a conta foi a população, com alimentos mais caros, crédito inacessível e um auxílio emergencial insuficiente para cobrir a alta dos preços.
A Manipulação da Narrativa foi culpar o Auxílio Emergencial para esconder os verdadeiros responsáveis.
Para justificar a inflação, setores da mídia e da elite econômica tentaram culpar o auxílio emergencial, como se o pouco dinheiro destinado aos mais pobres fosse o causador da alta generalizada de preços. Essa narrativa ideológica serviu para ocultar os reais responsáveis: a especulação financeira, a ganância do agronegócio exportador e a política econômica que manteve os juros altos para garantir lucros ao sistema financeiro. O exemplo emblemático desta triste realidade foi ver as pessoas nas filas de promoção de venda de OSSOS.
O Neoliberalismo como Projeto de Concentração de Riqueza.
A pandemia escancarou o caráter perverso do neoliberalismo no Brasil com uma agenda que usa crises para transferir ainda mais renda para o topo da pirâmide, enquanto precariza o trabalho e reduz direitos. Enquanto banqueiros e latifundiários batiam recordes de lucro, milhões de brasileiros voltavam a passar fome.
É Preciso Romper com esse Modelo .
A solução para a crise alimentar não virá do mesmo sistema que a criou.
É necessário:
-Regular os preços e combater a especulação via empresas publicas como a CONAB, impedindo que alimentos sejam tratados como apostas financeiras.
- Priorizar o abastecimento interno, garantindo estoques públicos e fortalecendo a agricultura familiar.
- Taxar grandes fortunas e lucros extraordinários do agronegócio e do sistema financeiro, além de rever a legislação como a Lei Candir.
- Rever a política de juros altos*, que só beneficia bancos e prejudica a economia real rediscutindo o real papel do Banco Central como o Banco que zele realamente pelos interesses da nação Brasileira ao invés de ser um garantidor do lucro dos especuladores.
Enquanto o alimento for tratado como mercadoria e não como direito, a fome seguirá sendo um projeto político das elites. O desafio é construir um modelo que coloque a vida acima do lucro.
Itamar Santos
Viamão RS, 28 de julho de 2025.
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