*Enfretamento
a privatização do sus.
O SUS realmente enfrenta um
cenário preocupante de privatização nos municípios, onde organizações da
sociedade civil de interesse público (Oscips), empresas privadas de saúde e
fundações privadas atuam mediante contratos que absorvem bilhões dos recursos
públicos.
Esses contratos, muitas vezes,
não garantem a assistência adequada para os usuários do SUS.
Além do subfinanciamento
crônico, o problema da privatização no SUS inclui:
A terceirização e a
“quarteirização” dos serviços, onde a gestão do atendimento e até mesmo de
serviços médicos são repassados a entidades privadas que focam em metas
empresariais e quantitativas, prejudicando a qualidade do atendimento.
A permissão legal para
complementaridade (art. 199 da CF) permite a contratação de serviços privados,
mas essa complementaridade deve ocorrer apenas quando comprovada a
insuficiência do serviço público e a impossibilidade de expansão da estrutura
pública, o que na realidade não é respeitado tornando-se rotina administrativa.
As fundações públicas de
direito privado, utilizadas em alguns estados, como estratégia de gestão,
tentam modernizar o sistema, mas acabam abrindo portas para modelos que podem
favorecer privatizações indiretas.
A privatização da Atenção
Primária à Saúde (APS) tem mostrado impacto negativo sobre a universalidade e
equidade do SUS, desviando o foco do bem-estar das pessoas para o lucro
privado.
Esses elementos juntos colocam
em risco a integralidade, universalidade e equidade do SUS, pilares essenciais
para assegurar a soberania do povo brasileiro pela garantia do direito à saúde.
Temos três questões que
impedem a implementação do sus em todo o território nacional:
O subfinanciamento, a
privatização por meio de contratos com Oscips, fundações e empresas privadas, e
o desrespeito ao princípio de universalidade e integralidade do SUS — atuam de
forma interligada e reforçam-se mutuamente, agravando os desafios do sistema.
O subfinanciamento crônico
limita recursos e capacidade do SUS para ampliar e qualificar seus serviços
públicos, o que abre espaço para a entrada de agentes privados que, em muitos
casos, priorizam o lucro em detrimento da qualidade e do acesso universal.
Ao mesmo tempo, os contratos
com Oscips e fundações privadas mexem na gestão do sistema, gerando
fragmentação, falta de transparência e dificuldades na fiscalização,
dificultando o controle social e comprometendo o atendimento digno aos
usuários.
Esses fatores juntos ameaçam
os princípios constitucionais do SUS — universalidade, integralidade e equidade
— e, consequentemente, enfraquecem a soberania nacional que depende da garantia
efetiva do direito à saúde para toda a população.
Portanto, as estratégias para
fortalecer o SUS devem necessariamente enfrentar essas três questões de modo
integrado, assegurando recursos adequados, resgatando o papel central da gestão
pública na saúde e defendendo os princípios que sustentam o sistema universal
de saúde no Brasil.
Aprofundando a estratégia para
enfrentar os três desafios que o SUS enfrenta — subfinanciamento, privatização
e enfraquecimento do controle social — o caminho envolve ações integradas e
estruturais:
Enfrentamento do Subfinanciamento:
Buscar redefinir e ampliar as fontes de financiamento do SUS
mediante políticas públicas que priorizem a saúde, como revisão de renúncias
fiscais, criação de tributos específicos exclusivos para o SUS, e evitar
regressividade tributária.
Vincular o aumento dos
recursos a prioridades do SUS, especialmente a ampliação e qualificação da
Atenção Primária à Saúde (APS), que é a base para integralidade e eficiência do
sistema.
Valorizar e investir na
valorização dos profissionais da saúde, com planos de carreira, concursos
públicos, melhores condições de trabalho e remuneração com a criação da
Carreira-SUS Federal, para garantir a qualidade do atendimento e a permanência
no serviço público;
Revisão das renúncias fiscais relacionadas à saúde,
Mapear e avaliar as renúncias fiscais atuais vinculadas a setores econômicos que impactam a arrecadação e redirecionar parte desses recursos para o SUS;
Implementar instrumentos legais para reverter renúncias que não trazem benefícios claros à saúde pública;
Criação de tributos específicos para financiar o SUS,
Propor uma Contribuição Social sobre grandes fortunas ou transações financeiras, com destinação exclusiva para a saúde pública;
Avaliar a viabilidade de um imposto sobre produtos nocivos à saúde (como bebidas açucaradas e tabaco), com recursos destinados ao SUS.
Combate à Privatização e
Terceirização:
Fortalecer o papel da gestão pública direta,
reduzindo contratos com Oscips, fundações e empresas privadas que atuam de
forma corporativa e fragmentada, comprometendo o atendimento universal e
integral.
Aperfeiçoar a legislação e
fiscalização para limitar as exceções do art. 199 da Constituição, assegurando
que a complementaridade ocorra apenas em casos reais de insuficiência do
serviço público.
Promover modelos de gestão
pública modernos que elevem eficiência e transparência, evitando as armadilhas
da “privatização por dentro” e restaurando a soberania sobre a gestão do
sistema.
Fortalecimento do Controle
Social e Participação Popular:
Investir em capacitação e
apoio institucional para que as instâncias participativas cumpram seu papel de
fiscalização e proposição, garantindo transparência e evitando retrocessos na
garantia do direito à saúde.
Estimular a mobilização social
e a luta política em defesa do SUS, fortalecendo a cultura participativa como
forma de assegurar que as políticas públicas sejam construídas e fiscalizadas
democraticamente.
Essa estratégia integrada
resgata a centralidade da saúde pública como direito social e pilar da
soberania nacional, garantindo que o SUS seja valorizado e fortalecido como
sistema universal e integral, com gestão pública forte e controle social ativo.
Aprofundar as propostas
específicas para enfrentar os desafios do SUS— subfinanciamento, privatização e
enfraquecimento do controle social — exige ações detalhadas e práticas para
cada aspecto.
Combate à regressividade
tributária:
Promover a reforma tributária
com foco em tributação progressiva, evitando aumentar a carga sobre consumo
popular e ampliando impostos sobre renda e patrimônio.
Fortalecimento da Atenção
Primária à Saúde (APS);
Alocar recursos prioritários
para expansão de equipes de saúde da família e serviços comunitários.
Investir em tecnologia,
infraestrutura e capacitação permanentemente na APS para melhorar a eficiência
e resolver até 80% das demandas de saúde ali.
Valorização dos profissionais
de saúde: Criar e implementar planos de carreira-sus estáveis e competitivos
para médicos, enfermeiros e demais trabalhadores.
Garantir melhores condições de
trabalho, com ambientes seguros e políticas que evitem a sobrecarga e o
adoecimento desses profissionais.
Combate à Privatização e
Terceirização:
Redução de contratos com
organizações privadas;
Revisar contratos vigentes com
Oscips, fundações e empresas terceirizadas para limitar serviços que possam ser
assumidos diretamente pelo Estado;
Promover a internalização
gradual desses serviços, valorizando a gestão pública;
Aperfeiçoamento da legislação
e fiscalização;
Aprimorar normas para
restringir as brechas do artigo 199 da Constituição que facilitam a
terceirização e privatização via prestação indireta;
Fortalecer os órgãos
fiscalizadores para atuar de forma proativa contra fraudes, corrupção e
práticas que fragmentem o sistema;
Modernização da gestão pública:
Implantar sistemas digitais
transparentes de gestão que facilitem o controle social e a eficiência
administrativa;
Desenvolver práticas de
governança pública moderna, com foco em resultados e participação cidadã para
evitar "privatização por dentro";
Fortalecimento do Controle
Social e Participação Popular através de legislação garantidora;
Ampliação dos espaços de
participação;
Garantir orçamento,
infraestrutura e acesso para os conselhos de saúde municipais, estaduais e
nacional;
Criar mecanismos virtuais
complementares para ampliar a participação da população, especialmente de
grupos vulneráveis;
Capacitação e apoio
institucional;
Promover formação continuada
para conselheiros, trabalhadores de saúde e gestores sobre direitos,
fiscalização e proposição de políticas públicas;
Disponibilizar assessoria
técnica independente para apoiar análise e emissão de pareceres fundamentados;
Estimular a mobilização
social;
Incentivar a criação de
fóruns, seminários e campanhas de conscientização sobre o SUS como direito
social e patrimônio coletivo;
Apoiar a articulação de
movimentos sociais, sindicatos e ONGs para fortalecer a cultura democrática e
garantir o monitoramento das políticas de saúde.
Essa abordagem integrada
assegura que o SUS seja fortalecido estruturalmente, com financiamento robusto,
gestão pública qualificada e um controle social ativo, alinhado à defesa dos
direitos sociais e da soberania nacional.
*Itamar Santos é Vice-presidente
do Conselho Estadual de Saúde do RS.

