Primeiramente
é pertinente recapitular a cultura hip hop que é formada pelos
seguintes elementos: O rap, o graffiti e o break.
Na tradução
literal Rap significa ritmo e poesia, que é a expressão musical
verbal da cultura; Graffiti - que representa a arte plástica,
expressa por desenhos coloridos feitos por graffiteiros, nas ruas das
cidades espalhadas pelo mundo; Break dance - que representa a dança.
Os
três elementos juntos compõe a cultura hip hop, que foi e é a
forma da periferia, e dos guetos expressarem suas dificuldades, suas
necessidades de todas classes excluídas...
O
termo hip hop, alguns dizem que foi criado em meados de 1968 por
Afrika Bambaataa. Ele teria se inspirado em dois movimentos cíclicos,
ou seja, um deles estava na forma pela qual se transmitia a cultura
dos guetos americanos, a outra estava justamente na forma de dançar
popular na época, que era saltar (hop) movimentando os quadris
(hip)...
Como
tantas outras formas culturais esta também foi adaptada a realidade
das favelas brasileiras e inicialmente seguiram a mesma tendencia dos
Negros norte americanos, denunciando o grave estado social das
favelas, dos negros e negras, assim como dos pobres das favelas do
Brasil.
Com
o passar dos anos esta bagagem histórica do hip hop/funk passa a ser
cooptada pela industria radiofônica e passa a ditar costumes, moda e
politica nas mesmas favelas que antes protestavam através das suas
letras contra uma politica social que lhes tinham como massa de
manobra.
Daí
surge o
funk ostentação
que dizem ser uma releitura paulista do funk carioca, feita a partir
da Baixada Santista e da Região Metropolitana de São Paulo, na qual
as letras passam a ter a seguinte temática: dinheiro,
grifes, carros, bebidas e mulheres.
O
Funk ostentação rapidamente produz exceções riquíssimas que
trazem lucros astronômicos as grandes gravadoras multinacionais que
impõe aos guetos brasileiros um mundo imaginário que lhes reprime
violentamente até de se locomoverem nos shoppings, onde
qualquer
jovem pobre é identificado como “suspeito” que esteja diante de
uma vitrine, mesmo que sozinho, desejando óculos da Oakley ou tênis
Mizuno, dois dos ícones dos funkeiros da ostentação, são
monitorados como “possíveis ladrões”.
As
novelas já vendiam uma vida de luxo há muito tempo, só que nelas
os ricos eram os que pertenciam ao mundo de riqueza.
Nos vídeos
clipes do funk ostentação, são os pobres que aparecem neste mundo,
somente como figurantes.
O
funk da ostentação, evoca o consumo, o luxo, o dinheiro e o prazer
e que tudo isso esta a disposição onde nos clipes, os Mcs
(rappers) aparecem com correntes e anéis de ouro, vestidos com
roupas de grife, em carros caros, cercado por mulheres com muita
bunda e pouca roupa, só que não lhes diz que tudo aquilo é uma
exceção, ou seja, que ele (o MC) é a exceção e que tudo aquilo
não é para todos porque nas sociedades capitalistas este status são
pra poucos.
Diferentemente
do hip hop original paulista dos ano 80 e 90, que negava o sistema, e
também do movimento de literatura periférica e marginal que, no
início dos anos 2000, defendia que, se é para consumir, que se
compre as marcas produzidas pela periferia, para a periferia, o funk
da ostentação coloca os jovens, ainda que para a maioria só pelo
imaginário, em cenários até então reservados para a juventude
branca das classes média e alta.
Esta,
com certeza, seja a sua transgressão. Transgressão porque passa uma
ilusão alienante porque em seus clipes, os Mcs ( Mestres de
Cerimônia/Rapper/Cantor) têm vida de rico, com todos os signos dos
ricos. E esta riqueza é graças ao sucesso de seu funk nas
comunidades, onde muitos MCs enriqueceram de fato e tiveram acesso ao
mundo que celebravam, só que este mundo não é socializado com a
favela que sustenta esta riqueza.
Esta
exaltação do luxo e do consumo, imposta por uma mídia que explora
a qualquer custo deve ser vista como adesão ao sistema e tornou o
funk da ostentação uma ferramenta útil para este fim.
Agora,
ao ocupar os shoppings, a juventude pobre e negra das periferias não
estava apenas se apropriando dos valores simbólicos, como já fazia
pelas letras do funk da ostentação, mas também dos espaços
físicos, o que marca uma diferença. E, para alguns setores da
sociedade, adiciona um conteúdo perigoso àquele que já foi chamado
de “funk do bem”. O tiro saiu pela culatra e teve seus efeitos
colaterais...
O
que os defensores do Funk ostentação não dizem nas suas letras é
que a resposta seria violenta por parte da administração dos
shoppings, das autoridades públicas, da clientela e de parte da
mídia que informa que a entrada da juventude das periferias nos
shoppings seria uma violência.
Mas
a violência era justamente o fato de não estarem lá para roubar,
mesmo sendo o único lugar em que se acostumaram a enxergar os
jovens negros e pobres. Então, como identificá-los, em que lugar
inclui-los? Se isso fosse a intenção...
Sem
respostas “concluíram” que havia a intenção de furtar e
destruir, o que era mais fácil de aceitar do que admitir que apenas
queriam se divertir nos mesmos lugares da classe média, desejando os
mesmo objetos de consumo que ela.
E
o que vera para ser um rolezinho foi parar na delegacia.
E
os fanqueiros de ostentação e as novelas permanecem produzindo
ilusões impossíveis de serem atendidas em uma sociedade capitalista
que ilude somente pra lucrar e para isso se utilizada dos próprios
oprimidos para venderem estas ilusões.
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