
Desnecessário enumerar as maravilhas da cidade carioca tanto por sua paisagem como pela beleza plástica de seu povo de corpos bronzeados pelo astro rei da natureza que lhes premia com sua luz e calor durante a maior dos anos, mesmo para quem a conhece de forma virtual, como eu.
Belezas a parte, esta cidade sofre fortes contradições que contrastam com suas maravilhas e riquezas onde há milhares de pessoas que estão à margem da dita sociedade que segrega pela miséria e pelo racismo, ameaçadas pelo crime organizado, pelas milícias formadas por agentes do Estado corrompidos por este mesmo sistema.
Estas são as consequências da inexistência deste Estado que programaticamente se omite em realizar o que é de sua competência fazer.
Consequências causadas pelas praticas impostas pelo sistema capitalista que ao longo dos anos a cidade foi sendo privatizada em seu território, em seus serviços públicos e o seu povo proibido destes benefícios.
A violência nas suas mais diversas formas sitiou o povo pobre do Rio de Janeiro, mas pode ser exemplo para qualquer outra grande metrópole mundial onde o capitalismo impera.
O povo carioca foi obrigado a subhabitar seus morros em condições desumanas devido à privatização de seu território e de suas praias as quais foram franqueadas pela ganância imobiliária.
A violência é tamanha que já se tornou banalidade na existência do carioca pobre e negro. No Rio matam-se 2,5 vezes mais jovens* do que na guerra de insana de Israel na Palestina fruto do treinamento militar recebido pelos os PM’s do BOPE que com seus carros blindados (adquiridos de empresas israelenses, os menos que assassinam milhares de palestinos) chamados de “caveirões” sobem os morros cariocas para matar nossos jovens também.
Descontente ou insatisfeito com a sua perversa performace o governador Sérgio Cabral (PMDB) em parceria com o prefeito Eduardo Paes (PMDB) iniciou a construção de onze quilômetros de muros extensão e três metros de altura para separar treze comunidades pobres da cidade dos seus “vizinhos” ricos. Projeto hipocritamente denominado de “ecolimites”.
Esta pratica não é mera conhecidência. É uma velha estratégia utilizada pelos EUA na fronteira do México para afastar os indesejáveis pobres mexicanos que insistem em atravessar a fronteira na doce ilusão de uma vida digna. Outro exemplo vem de Israel com o seu holocausto diário e ao vivo aos olhos do mundo contra o povo Palestino, o qual constitui a maior prisão domiciliar já construída no planeta que para a qual todos se calam.
O silêncio mundial sobre estas aberrações é o que mais chocam aqueles que como eu se indigno com essas barbáries, mas este sentimento é para poucos, pois classe média carioca, por exemplo, exige que o trabalhador deva morar próximo de suas casas para não pagar vale transporte, mas não querem que morem no morro.
Com essa deixa, em 1998 no último ano do governo de Marcelo Alencar (PSDB) no Rio e primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ocorreu à privatização de todo o sistema de transporte público carioca, ou seja, aquaviário (barcas), o ferroviário (trem de superfície) e o metroviário (trem subterrâneo), sob a desculpa de com o controle privado o transporte iria melhorar.
Onze anos se passaram e o que era um problema se tornou caótico, a quantidade de passageiros dobrou de 500 mil para 1,1 milhões de pessoas* por dia e nenhum trem foi comprado pela Supervia, empresa que controla 225 km de ferrovias, o metrô também não aumentou sua frota de locomotivas e vagões.
Houve uma enorme diminuição do quadro funcional, a Central do Brasil de onde parte os trens se tornou um shopping que somadas com os ganhos de propagandas nos sucateados trens e com o lucro diário das bilheterias engordam a conta bancaria das empresas concessionárias que detém esta permissão.
Estas empresas são velhas conhecidas por estarem sempre financiando campanhas eleitorais dos sociais democratas e por conhecidência foram as únicas a participarem da concorrência onde ganharam o direito de explorar estes serviços públicos pelo preço mínimo.
Entre elas podemos encontrar a Companhia 1001, do setor rodoviário, a Construtora Andrade Gutierrez e a OAS que em conjunto com alguns fundos de pensão controlam o metrô e quanto as barcas estão sob o controle da empresa Barcas S/A que tem como maior acionista a Companhia 1001.
O Rio de Janeiro é ou não é uma cidade sitiada pela privatização? Você assistiu pela tv (no mês de abril/09) quando os “seguranças” destas empresas chicotearam as pessoas que estavam esmagadas nas portas dos trens, então, este tratamento advém do século XIX.
É obvio, há escravidão no Brasil do século XXI.
E o estado de sitio não se dá só no transporte público, ele acontece em vários outros setores como os do transporte das Vans que são controladas pelas milícias onde o motorista e o passageiro têm que pagar para poder manter sua rota e seu trabalho.
Tem também os taxis que são controlados pelas máfias da policia e das “cooperativas”, verdadeiras fabricas de sonegar direitos.
Segundo dados da CPI das Milícias de 2008 informam que as organizações paramilitares já controlavam 250 rotas de vans na cidade cobrando uma taxa diária por motorista de R$ 45,00 por dia, gerando um lucro estimado em R$ 60 milhões por ano*.
E com tudo isto nada acontece e somos ensurdecidos pelo grande silêncio social praticado principalmente pela Justiça brasileira que em nome da lei liberta com seus habeas corpus aqueles que sustentam toda esta violência.
* Fonte: Jornal Brasil de Fato n° 325 e 326 de maio de 2009.
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